23.9.11

Vintage x Retrô (Parte VI)


MERCADO DE PULGAS, VINTAGE STORES E BRECHÓ:

Brechó: Definição e Origem da palavra

A origem do nome Brechó se deu no Rio de Janeiro do século XIX, quando um comerciante português de nome Belchior criou a primeira loja de roupas e objetos de segunda mão. Originalmente, era assim que eram conhecidas as lojas de roupas e objetos usados e com o tempo, como a maioria das pessoas não conseguiam pronunciar o nome correto, acabou se transformando em Brechó.

Na época em que surgiu, brechó era sinônimo de lojas antigas e empoeiradas que tinham como clientela pessoas de baixo poder aquisitivo. Com o passar do tempo os brechós passaram por mudanças e começaram a se fixar como comércio no final dos anos 70 e começo dos anos 80. 
A princípio, a venda de peças destinava-se a arrecadar fundos para instituições de caridade, mas logo foram descobertos por uma juventude contestadora disposta a transformar conceitos e romper com idéias pré-estabelecidas, buscavam uma anti-moda que deveria acima de tudo priorizar a imaginação e a invenção. 
A idéia central deste novo conceito seria expressar no corpo de cada um a liberdade de escolher e definir seu estilo, seu jeito de ver o mundo. Esta idéia encontrou nos brechós e nos baús das vovós verdadeiras preciosidades que devidamente combinadas permitiram a criação de estilos visuais únicos.
Os brechós passaram por muitas mudanças desde então, deixando de ser apenas uma antiga loja de objetos usados, cheios de mercadorias e muita poeira, transformando-se em locais bem organizadas com peças separadas por estilo ou gênero. Segundo Lígia Krás em seu artigo sobre os brechós, a limpeza, higienização das roupas e acessórios, a boa apresentação do local e das roupas foram fatores que contribuíram para diminuir a resistência da sociedade em relação a esse tipo de consumo.

Em meados dos anos 90, a idéia de usar roupas com estilo de épocas passadas começou a se propagar, saindo da Europa para o resto do mundo. Um fator importante para que alguns preconceitos fossem quebrados se deu pelo fato de que estilistas renomados, produtores de moda e figurinistas de novelas começaram a utilizar artigos de brechós em suas criações. Em Hollywood, a idéia de usar roupas vintage começou a ser visto como tendência de moda a partir de 2001, quando Julia Roberts recebeu o Oscar com um modelo do estilista Valentino de 1982, seguida por Reese Witherspoon em 2006, Angelina Jolie, usando um vestido de 26 dolares em 2007 e Penélope Cruz, que recebeu o Oscar de melhor atriz coadjuvante 2009 usando um vestido de Pierre Balmain, de 1949.  
 Atualmente a idéia de resgatar roupas do passado se sofisticou e ganhou até um novo nome: Vintage.

O brechó como loja de roupas e acessórios exclusivamente vintage é algo recente na cultura brasileira, embora exista há muito tempo na Europa. As Vintage Clothing Stores, espalhadas por toda Europa e Estados Unidos, são lojas especializadas em roupas e acessórios de época apenas, diferente das Second Hand Store, que vendem roupas de segunda mão, roupas usadas sem especificação de épocas (o tipo mais comum de brechó que conhecemos). No Brasil, no entanto, não existe ainda essa diferenciação clara, pois é muito recente a idéia de brechó como loja de produtos antigos, de época, de roupas e acessórios com história.

OS TIPOS DE BRECHÓ

Dentro da categoria de roupas de brechó é possível classificar os tipo de lojas e os produtos oferecidos, de acordo com a proposta dos proprietários. Existem os brechós da roupa com memória, onde o consumidor encontra roupas originais de épocas passadas, escolhidas com cuidado pelos proprietários, onde se pode conhecer a história da roupa, a quem pertenceu, se fez parte de algum grande momento da vida da pessoa e porque está sendo vendida. Também existem os brechós das roupas com status, que são aqueles especializados em griffes. 
A importância de analisar esse tipo de consumo é que são roupas e acessórios que oferecem algum status, porém são peças usadas, de segunda mão, compradas a baixo preço. É possível perceber através desse comportamento a inversão do código social de que fala Michel Pastoreau em O Pano do Diabo: Uma história das listras e dos tecidos listrados (1993), “As roupas usadas são carregadas de simbolismos e associadas a tabu ou desordem, mas quem as usa de forma correta é recompensado com elegância”.
O terceiro tipo são os brechós populares, de produtos baratos. As roupas ficam em caixas de papelão no chão, muitas em cabides pendurados nas paredes e até mesmo na porta da loja. As roupas à venda nessas lojas não tem classificação por época, cores, marcas, estão divididas por tipo de roupa: camisas, vestidos, saias, calças, casacos. Os preços são muito baixos, não há a preocupação de limpeza, decoração, ou boa apresentação. No meio disso tudo, a mídia tem grande responsabilidade na popularização do vintage no Brasil e por conseqüência, contribuíram para a melhora na apresentação física e atendimento nos brechós, que ao perceberam que esse era um bom negócio, tornaram-se mais modernos e higiênicos.
Portanto, os três tipos de brechós podem ser caracterizados pelo tipo de público alvo e aquilo que ali procuram: roupas baratas, usadas por pessoas que compram por necessidade, e por isso buscam os lugares onde as roupas têm preços mais baixos; roupa de grife, usado por pessoas que não tem condições de comprar a roupa original na loja devido ao preço, mas que valorizam a marca que a roupa possui como forma de status e o brechó das roupas de época, consumidas por pessoas com um estilo de vida que vai muito além do uso de roupas antigas. 
O público desse tipo de roupa relaciona seus gostos com um resgate histórico e cultural através de seus estilos de vida e buscam no antigo muito mais do que apenas uma sensação de estar na moda ou ser diferente pelo exótico que a roupa do brechó muitas vezes proporciona. Para eles significa um resgate cultural, uma volta aos “bons tempos” em que as coisas eram “de verdade”,elegantes, alinhadas,em que música, literatura, cinema tinham mais conteúdo e as artes,as relações sociais,os valores e até as modas não eram tão efêmeras. (Lígia Krás, 2008).


CONTINUA...
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